segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O imprevisto em Santiago do Chile


Não sou muita boa em fazer roteiros de viagens. Sinto-me  mais confortável em segui-lo. Meu marido é expert nisso. Passa dias e dias se dedicando ao planejamento. Pesquisas passeios, dividi-os por turnos, planeja os restaurantes, museus e  por aí vai. Tudo pra tornar a viagem mais proveitosa possível. Mas dentro do planejamento tem que caber o imprevisto. Martha Medeiros escreve que viajar é um convite para o imprevisto. Até tento prever o imprevisto levando remédios para uma possível dor de barriga depois de comer lula. Mas imprevisto é imprevisto.

Chegamos em Santiago em um sábado frio. Na quarta, iríamos atravessar a Cordilheira dos Andes para chegar em Mendoza . Quem se prepara para um viagem, sabe que ela começa bem antes de chegar ao destino. Fiquei imaginando por vários dias as paisagens arrebatadoras que a travessia  poderia proporcionar-me até chegar em Mendoza.  

Estava empolgada com tudo que via em Santiago. Xinguei várias pessoas sem saber, conheci vinícolas, entrei no filme Esqueceram de Mim várias vezes ao conhecer a neve, toquei no gélido mar do Pacífico, consegui entender o valor que tem um chocolate quente no frio de -7 graus, lagrimei  ao ver relatos da época da ditadura chilena,  deslumbrei-me com as cores do inverno que só via em papel de parede computador, matei a curiosidade sobre Pablo Neruda e tantas outras descobertas ! Meu espírito desbravador estava satisfeito com a capital chilena e me preparava psicologicamente para ir conhecer a terra do sol e vinho.

De repente, ‘’paso cerrado´´! Vi essa frase escrita em  vários lugares ao chegar na rodoviária na terça à noite, lugar que precisaríamos ir no dia seguinte para partir para Mendoza. Aquelas paisagens arrebatadoras que sonhei e vi em sites  e nas fotos de amigos não seriam mais  possíveis ver a olho nu.  Algumas coisas estavam pagas também. E a decepção quis me arrebatar. Foi necessário naquela mesma noite fria, cancelar passeios, o translado e procurar novamente um hotel para os próximos dias.  O cenário não era animador.

Mas alooooo, onde eu estava?? Em Santiago!! A aventura  precisava continuar  para descobrir o que Santiago tinha mais a oferecer já que eu estava satisfeita com tudo que já tinha visto.

Na dia seguinte, paramos ás 14: 50h , na quarta feira,  em uma vinha chamada Santa Rita. Meus olhos puderam contemplar a dormência das parreiras que se uniam às montanhas. Era deslumbrante !!! Nos dias seguintes, fui presenteada com  museus fantásticos que ganharam meu coração, conheci Mauricio e Andrea, brasileiros que moram no sul do Brasil. Maravilhei-me  com as praças tão europeias , conheci a centolla , belisquei o polvo, ganhei uma imponente vista do nosso hotel, apreciei o pisco sour e ganhei mais frio. Fiquei tão extasiada com tudo aquilo que nem lembrei de Mendoza, só agora mesmo.



Meu coração foi enxertado com tanta gratidão pela experiência e me dei conta que existem imprevistos que são bem desgostosos e ingratos, mas acredito que tentar ser generoso mesmo em situações não planejadas e continuar com o espírito aberto para a descoberta, funcionam para que sejamos menos estressados e mais aproveitadores desses deslocamentos que são verdadeiros presentes para nossa alma.