Não sou muita boa em fazer roteiros de viagens. Sinto-me mais confortável em segui-lo. Meu
marido é expert nisso. Passa dias e dias se dedicando ao planejamento. Pesquisas
passeios, dividi-os por turnos, planeja os restaurantes, museus e por aí vai. Tudo pra tornar a viagem mais
proveitosa possível. Mas dentro do planejamento tem que caber o imprevisto. Martha Medeiros escreve que viajar é um convite para o imprevisto. Até tento
prever o imprevisto levando remédios para uma possível dor de barriga depois de
comer lula. Mas imprevisto é imprevisto.
Chegamos em Santiago em um sábado frio. Na quarta, iríamos atravessar a Cordilheira
dos Andes para chegar em Mendoza . Quem se prepara para um viagem, sabe que ela começa bem antes de chegar ao destino. Fiquei
imaginando por vários dias as paisagens arrebatadoras que a travessia poderia proporcionar-me até chegar em Mendoza.
Estava empolgada com tudo que via em Santiago. Xinguei várias
pessoas sem saber, conheci vinícolas, entrei no filme Esqueceram de Mim várias
vezes ao conhecer a neve, toquei no gélido mar do Pacífico, consegui entender o
valor que tem um chocolate quente no frio de -7 graus, lagrimei ao ver relatos da época da ditadura chilena, deslumbrei-me com as cores do inverno que só via em papel de parede computador,
matei a curiosidade sobre Pablo Neruda e tantas outras descobertas ! Meu espírito
desbravador estava satisfeito com a
capital chilena e me preparava psicologicamente para ir conhecer a terra do sol
e vinho.
De repente, ‘’paso cerrado´´! Vi essa frase escrita em vários lugares ao chegar na rodoviária na
terça à noite, lugar que precisaríamos ir no dia seguinte para partir para Mendoza. Aquelas
paisagens arrebatadoras que sonhei e vi em sites e nas fotos de amigos não seriam
mais possíveis ver a olho nu. Algumas coisas estavam
pagas também. E a decepção quis me arrebatar. Foi necessário naquela mesma
noite fria, cancelar passeios, o translado e procurar novamente um hotel para
os próximos dias. O cenário não era
animador.
Mas alooooo, onde eu estava?? Em Santiago!! A aventura precisava continuar para descobrir o que Santiago tinha mais a oferecer
já que eu estava satisfeita com tudo que já tinha visto.
Na dia seguinte, paramos ás 14: 50h , na quarta feira, em uma vinha chamada Santa Rita. Meus olhos puderam
contemplar a dormência das parreiras que se uniam às montanhas.
Era deslumbrante !!! Nos dias seguintes, fui presenteada com museus fantásticos que ganharam meu coração,
conheci Mauricio e Andrea, brasileiros que moram no sul do Brasil. Maravilhei-me com as praças tão europeias , conheci a centolla , belisquei o polvo, ganhei uma imponente vista do nosso
hotel, apreciei o pisco sour e ganhei mais frio. Fiquei tão extasiada com tudo
aquilo que nem lembrei de Mendoza, só agora mesmo.
Meu coração foi enxertado com tanta gratidão pela experiência
e me dei conta que existem imprevistos que são bem desgostosos e ingratos, mas
acredito que tentar ser generoso mesmo em situações não planejadas e continuar com o espírito aberto para a
descoberta, funcionam para que sejamos menos estressados e mais aproveitadores
desses deslocamentos que são verdadeiros presentes para nossa alma.
Que lindo Dani
ResponderExcluirQue lindo Dani
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